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John Muir Trail
21 March 2016 Written by  Pedro Cardoso

John Muir Trail

“O” John Muir Trail

John Muir Trail, o mais emblemático trilho de longa distância nos EUA e um dos mais famosos a nível mundial. Situado na Sierra Nevada, Califórnia, de Yosemite ao topo do Mount Whitney (a 4424m de altitude). São 340 kms de “wilderness”, com 14 kms verticais de subida acumulada, passando pelos Parques Nacionais de Yosemite, Kings Canyon e Sequoia.

E quando digo wilderness, é mesmo wilderness. Acampando onde se pode, comendo apenas o que se carrega às costas, bebendo directamente dos ribeiros.

Tudo isto sempre acima dos 2000m de altitude, entre floresta e zonas rochosas alpinas, no meio dos ursos, veados, marmotas e, de vez em quando, outros humanos.

Foi o que caminhei em 2010, com mais 3 portugueses (Clara, Álvaro e Margarida), antigos companheiros de caminhadas.

Foram 380 kms (havia que fazer desvios) em 18 dias, com 18kgs às costas.

Numa palavra, fabuloso. Mas passemos ao diário de caminhada.

 

Dia 1 - 23.VIII.2010

Início - Yosemite Valley (1200m); Final - Clouds Rest Junction (2200m); Distância - 23km; Subida -1600m; Descida -  600m.

O primeiro dia previa-se difícil, tanto pela grande subida como pelo peso às costas, que incluía 10 dias de comida. E foi.

Saindo da zona de campismo exclusiva para os "backpackers" a primeira parte foi em asfalto plano, mas ao fim de meia hora entra-se no trilho propriamente dito. E a partir daqui é sempre a subir até o topo do Half Dome (2693m). Toda a subida foi acompanhada por muita gente, que ia num único dia subir ao topo e voltar ao vale, com o único objectivo de fazer o cume deste enorme rochedo. Sendo assim, iam levíssimos, com mochilas de 20l , água e umas barrazinhas. Malditos sejam!... Segundo dizem os gringos o  Half Dome é o segundo maior monólito no mundo a seguir ao El Capitan, que fica a uns meros 10 kms a Oeste. Mas o mundo dos gringos acaba na fronteira com o México, de forma que nunca fiando nestas coisas de maior do mundo.

De qualquer  forma, é impressionante.

Subimos, subimos, subimos. Passámos cascatas, como as Vernal Falls e as Nevada Falls. A subida foi particularmente difícil para a Margarida. Felizmente até calhou bem, porque a determinada altura é preciso deixar as mochilas num cruzamento a que teríamos de voltar mais tarde para ir até o topo apenas com água e pouco mais (máquinas fotográficas, claro).

Assim ficou a nossa guardiã das mochilas neste ponto enquanto eu, Clara e Álvaro subiamos, agora com carga mínima. Agora sim, estávamos tão leves que até corriamos, devemos ter ultrapassado largas dezenas de day-hikers por ali acima.

Isto até chegarmos ao início dos cabos. Todos os anos são ali colocados para segurança, dada a grande inclinação do último troço. Normalmente ninguém cai, mas chegou a haver um ano recorde de 3 mortes nesta ascenção. Mas o pior mesmo é a fila que se forma. Meia hora à espera só para entrar nos cabos e outro tanto para subir. Felizmente a vista lá em cima compensa a espera! Ver o vale 1500m lá abaixo depois de uma parede perfeitamente vertical.

Mais foto, menos foto, temos de descer que se faz tarde. Mas, mesmo para descer, fila nos cabos. Alguém entrou em pânico a meio e nem “prá frente, nem pra trás”. Era de esperar, vimos pessoal em verdadeiro pânico a subir, uma moça a chorar, o que será desta gente quando descer e vir tudo numa perspectiva bem mais assustadora? Mais uma hora à espera. Mas lá desencravaram o homem e pudemos voltar ao cruzamento onde a Margarida esperava.

Mais meia hora a partir deste ponto e estávamos no acampamento, perto dum ribeiro como sempre, pois há que reabastecer de água e cuidar da higiene. A primeira noite na "wilderness".

 

Dia 2 - 24.VIII.2010

Início - Clouds Rest Junction (2200m); Final - Cathedral Lakes (2900m); Distância - 21km; Subida - 900m; Descida - 200m.

Segundo dia, segundo a subir (pelo menos no começo). Mas sempre foi mais fácil, no meio da floresta, sempre em trilho bem marcado.

Este foi o primeiro dia em que se conseguiu sentir a solidão. Volta e meia lá se encontra alguém, mas nada como as multidões do dia anterior, até porque quem viesse para esta zona teria de dormir pelo caminho, algo a que nem toda a gente está disposta. Entremeados com a floresta ainda se passam alguns prados rodeados por montanhas, paisagens verdadeiramente deslumbrantes.

Infelizmente neste dia as primeiras lesões surgiram. Bolhas enormes nos pés da Margarida, nada que não se trate, mas a partir daqui ela largou as botas de montanha e passou a usar sandálias para o resto da caminhada. Quem sabe a primeira travessia de sandálias na história do JMT. Felizmente, no fim do dia, uma bela surpresa. Escolhemos dormir perto dos Cathedral Lakes, lagos de montanha à sombra do Cathedral Peak, mais um monólito de forma curiosa. E que bela vista se tinha do acampamento.

Durante todo o trilho houve que ter cuidado com os ursos. Tivemos que usar bear canisters, uns barris pequenos que os animais não conseguem abrir. Estes eram colocados longe da tenda durante a noite com toda a comida e tudo o que tivesse cheiro (detergente, medicamentos, etc.). Assim sempre se evitavam surpresas nocturnas, como seja uma tenda rasgada por um urso faminto. Além disso, cozinhar e higiene no mínimo a 30 metros da tenda (e 30m da água, para não poluir). Tudo o que fossem resíduos sólidos, ainda mais longe, e tinhamos de abrir um buraco no solo para não deixar vestígios.

Às vezes a logística tornava-se complicada.

 

Dia 3 - 25.VIII.2010

Início- Cathedral Lakes (2900m); Final - Tuolumne Meadows (2600m); Distância - 10km; Subida - 0m; Descida - 300m.

Pela primeira vez não se subiu. E, pouco se desceu.

Apenas uma manhã a andar que as bolhas nos pés de alguém ainda não estavam em condições. Mas, dadas as canseiras dos dois dias anteriores, acabou por saber muito bem.

Uma descida calma no meio da floresta que acabou em Tuolumne Meadows, uma das "portas" do Parque de Yosemite onde até chega a estrada. Como chegámos a tempo do almoço fomos aos hamburgers. Podia ser da fome que por enquanto até nem era muita, mas souberam tão bem como cozido à portuguesa. Depois do belo repasto tempo de ir à loja da zona reabastecer de pensos rápidos, fruta e iogurtes. Ah, o belo do iogurte...

Como estávamos na civilização lá acampamos no "backpackers camp" e durante a noite tivemos tempo de participar no fogo de campo organizado pelos rangers.

É impressionante a quantidade de actividades que todos os dias os rangers nos Parques Nacionais organizam. Fogos de campo onde se contam histórias passadas no parque, muitas delas remontando ao século XIX; Palestras como foi a de Ansel Adams em Yosemite Valley; Caças ao tesouro e muitas outras actividades para as crianças. São todas voluntárias, claro, mas quem quiser aprender com a Natureza tem muito por onde escolher.

Muitos dos próprios nativos reconhecem que os Parques Nacionais são "America's best idea". E tendo lá vivido 2 anos, só posso corcordar.

 

Dia 4 - 26.VIII.2010

Início - Tuolumne Meadows (2600m); Final - Lyell Forks (2900m); Distância - 15km; Subida - 400m; Descida - 30m.

Hoje subia-se novamente. Mas praticamente apenas no final.

Quase todo o percurso foi feito num vale, o Lyell Canyon, ao longo do Rio Lyell. O rio desce lentamente o seu percurso, muitas vezes em meandros numa autêntica várzea, que já estávamos a imaginar percorrer de kayak.

À hora de almoço ainda deu para dar um mergulho que a água nem estava assim tão fria (acho que nem ia abaixo dos 5ºC). Como em toda a região, esta é uma área de truta, e ainda presenciámos a pouca sorte de um pescador que quase ia apanhando o jantar.

Apenas no final do dia de caminhada, que como sempre se dava entre as 16 e as 18h, subimos para um patamar no vale onde iriamos acampar ao lado do rio.

Alguns thru-hikers (pessoal que faz o JMT todo seguido, esses malucos) confiam parte da dieta às trutas que vão apanhando no caminho. Mas a maioria tem de se desenrascar com o que consegue carregar.

Dado o pouco espaço nos canisters a comida é basicamente constituída por desidratados. Nós seguimos esta regra, claro. E assim a dieta foi quase sempre a mesma. Ao pequeno almoço, entre as 7h e as 8h, Cerelac. Trouxemos a bela da papa da Europa que aqui só se encontra importada de propósito e bem mais cara.

Ao almoço, entre as 12h e as 13h, barras proteicas Clif. O que vale é que existem muitos sabores e nem são más de todo, além de muito equilibradas em todos os componentes. Ao jantar, entre as 18h e as 20h, massas Mountain House. É só aquecer água, despejar no pacote, fechar, esperar 10 minutos e já temos o jantar pronto. Não foi nada variado, mas comeu-se disto durante 18 dias.

Em termos nutricionais foi tudo estudado para não causar desequilíbrios, o pior foi a pouca quantidade que conseguiamos carregar que nos obrigava a estar em défice de umas 1500 kcal por dia. Felizmente o corpo adapta-se e até nem tivemos muita fome, apesar de eu em particular ter perdido toda a pouca gordura que tinha, passando de uns escassos 67 para uns esfomeados 64kgs.

 

Dia 5 - 27.VIII.2010

Início - Lyell Forks (2900m); Final - Garnet Lake (2900m); Distância - 20km; Subida - 900m, Descida - 900m.

Hoje, pela primeira vez, entrou-se em verdadeiro território de montanha.

A partir do local de acampamento em Lyell Forks subiu-se acima da linha de árvores. A caminho da maior altitude atingida até hoje, no Donohue Pass (3370m) passam-se uma série de pequenos vales encaixados. Uns com ribeiros a correr, outros com lagos de água perfeitamente cristalina, a paisagem é fenomenal.

Sobe-se bem, e nem se dá por isso. Já no colo (nome dado à zona entre dois picos usada para ganhar acesso ao vale seguinte), os nossos companheiros de viagem Álvaro e Guida atingiram a maior altitude da caminhada deles, dado que planeavam sair a meio, ao fim do nono dia.

Aqui também deixávamos o Yosemite National Park e entrávamos na Ansel Adams Wilderness. Descemos para o Rush Creek, onde algumas pontes que mais não eram que troncos caídos em cima da água obrigavam a testar o equilíbrio.

Mais uma subida, pequena, para vencer o Island Pass e desce-se para o Thousand Island Lake. Não são 1000, mas lá que tem muitas ilhas tem. Daqui resolvemos fazer o forcing até o Garnet Lake, dado que ainda era cedo. O pior foi a ventania que entretanto se levantou.

Ainda andámos um pouco às aranhas para encontrar um local abrigado perto das águas do Garnet mas com o cair da noite lá montámos acampamento. E, até deu para encontrar uma cache, a Island View Cache [GCK2V7] a meros 20 metros da tenda.

Soubemos depois que o vento tinha trazido uma tempestade de neve a estas altitudes, no dia seguinte, felizmente já estávamos mais abaixo.

A escolha de locais para acampar nem sempre era fácil mas nunca causou problemas.

Nestas regiões basicamente pode-se acampar em todo o lado desde que se observem determinadas regras: nunca a menos de 30m da água ou do trilho; nunca em zonas de vegetação; optar sempre por zonas com terra.

Como há muita gente a fazer o mesmo acabam-se por encontrar muitas áreas apropriadas a cada poucos quilómetros, frequentemente com vistas espectaculares.

 

Dia 6 - 28.VIII.2010

Início - Garnet Lake (2900m); Final - Reds Meadow (2300m); Distância - 25km; Subida - 400m; Descida - 1100m.

Depois de uma noite de vento e frio, um longo dia a descer.

Passaram-se diversos lagos, o maior dos quais o Shadow Lake. Zigzaguearam-se muitas das descidas e pelo caminho ainda apanhámos neve que caía muito escassa, apenas uma amostra da tempestade mais acima.

E, mais uma cache, desta vez a Shadows Wood Box [GC1EB2F], que ainda obrigou a uma caminhada extra dado que quando me apercebi já a tinhamos passado por umas centenas de metros. Para quem ia fazer centenas de quilómetros foi um pulo.

Assim se chegou ao Devil's Postpile National Monument. Mais não é que um conjunto de colunas basálticas, muito parecido com os que se encontram nos Açores, dos quais o melhor exemplo é a Rocha dos Bordões nas Flores.

A Clara no entanto já vinha com problemas nos joelhos, muito comum quando se desce com peso às costas que desgasta as articulações. Felizmente há sprays milagrosos que salvam destas situações.

O dia acabou em Reds Meadow, um parque de campismo com famosas "termas". As termas são na verdade uns cubículos sujos e escuros com um chuveiro de água quente. Mas, depois de 6 dias sem um banho decente, soube que nem ginjas, ainda se lavou roupa e tudo.

A higiene nas zonas longe da civilização era difícil. Banhos, sempre de água fria (ler gelada). Muitas vezes ainda me aventurei a banho directo no rio ou lago mais próximo, mas muitas outras ia mesmo de balde e esponja numa zona mais soalheira.

Roupa, apenas levámos 3 mudas para não pesar. Ou seja, ou repetíamos roupa suja, normalmente com muito pó, ou tínhamos de lavar regularmente. Usávamos um detergente biodegradável especial de corrida, mas de detergente tinha muito pouco, era quase como passar a roupa por água. O cheiro a transpiração foi uma constante até o último dia. Bom para espantar ursos?

 

Dia 7 - 29.VIII.2010

Início - Reds Meadow (2300m); Final - Deer Creek (2800m); Distância - 11km; Subida - 500m; Descida - 50m.

E ao sétimo dia descansámos.

Pelo menos uma manhã, dado que as condições meteorológicas não eram as melhores, com alguma humidade e ameaça de chuva, ainda os resquícios da tempestade.

Aproveitámos para almoçar no bar de Reds Meadow. Desta vez os hamburgers não estavam tão bons, mas a apple pie (tarte de maçã) não estava má de todo.

O caminho foi relativamente plano, subia-se pouco, e a princípio numa zona ardida durante os anos 90, ainda uma larga mancha.

Dado que durante um bom bocado do caminho não haveria água, acampámos perto do último rio, Deer Creek.

Depois da humidade veio o frio, já durante o jantar as temperaturas eram baixas, a frente fria chegou e tivemos uns meros 5 negativos durante a noite. Muito grizo se rapou. Até as mulas de um grupo que tinha acampado por perto se queixaram, batendo os cascos no chão durante toda a noite.

A fauna que se vê ao longo do trilho chama a atenção de qualquer um. Pela variedade, com ursos, veados, marmotas, múltiplas espécies de esquilos, pikas, águias, etc... E pelo pouco medo que todos estes animais têm de humanos. Os ursos não têm problemas em vir pedir comida emprestada. Os veados deixam-se aproximar a 10 metros ou menos. Os animais mais pequenos também quase não nos vêem como uma ameaça. Será porque estão protegidos nesta região há mais de um século?

 

Dia 8 - 30.VIII.2010

Início - Deer Creek (2800m); Final - Cascade Valley (2800m); Distância - 21km; Subida - 600m; Descida - 600m.

Este foi mais uma vez um dia de lagos, sempre inseridos em paisagens de montanha.

Até aqui, a 3000m de altitude, se encontravam pescadores, chamados pelas muitas trutas que não têm problemas em subir até a cabeceira dos rios.

Depois do merecido almoço e descanso nas margens do Purple Lake, seguimos para o Virginia Lake, onde ainda deu para fotografar umas marmotas. A seguir tínhamos um zigzag imenso a descer até Tully Hole, um prado encaixadíssimo por onde só se sai pelas margens do Fish Ceek, que cai pelo vale numa sucessão de cascatas. Acaba-se por atravessar o rio numa ponte metálica, a seguir à qual pensávamos acampar. Infelizmente o local já estava ocupado por outro grupo de forma que tivemos de subir ainda um bom bocado em direcção à dificuldade do dia seguinte, o Silver Pass.

Apesar da solidão de grande parte do percurso, encontra-se bastante gente pelo caminho. Dos 8 aos 80, com maior ou menor preparação, para muitos trata-se mais de um desafio psicológico que físico.

Durante os nossos 18 dias penso que o mais jovem caminhante que conhecemos teria uns 16 anos. O mais idoso 71. Este estava num grupo de austríacos que, com 71, 70 e 67 anos, faz este tipo de caminhada por todo o mundo. Segundo a senhora do grupo, é uma questão de habituar o corpo. Ela estava habituada enquanto jovem a correr ultra-maratonas, corridas de mais de 42km normalmente em caminhos de montanha, feitos em poucas horas. Haja saúde.

 

Dia 9 - 31.VIII.2010

Início - Cascade Valley (2800m); Final - Edison Lake (2300m); Distância - 19km; Subida - 600m; Descida - 1000m.

O dia começou com uma subida ao Silver Pass (3322m).

O mau tempo e frio entretanto tinham acabado, de forma que pudemos apreciar todo o caminho. Foi com um sol espectacular que passámos ao lado de uma série de lagos com nomes nativos, desde o Lonely Indian Lake, aos Chief Lake, Squaw Lake e Papoose Lake. Ganho o colo, foi sempre a descer, primeiro numa zona rochosa encaixada, depois no meio de floresta. Ainda passámos por mais grupos com mulas, que não têm problemas em subir todos os colos de montanha com dezenas de quilos em cima. Largas dezenas, caso tenham o azar de apanhar um típico americano gordalhufo. Felizmente estes não se aventuram nestas paragens, não há McDonalds ao virar da esquina.

No fim do dia, Edison Lake, onde se apanha um ferry para o Vermillion Resort. Um resort rústico, é certo, mas onde teríamos oportunidade de comer o último jantar decente e tomar o último banho quente até o fim da caminhada, 9 dias mais à frente (apesar de na altura estarmos a contar com mais 12).

Foi também aqui que Álvaro e Guida abandonaram o trilho, não era fácil tirar dias de férias para o completar. Era este o último ponto em que seria possível apanhar boleia de volta à civilização.

A partir daqui éramos só dois.

Apesar de se verem muitos grupos a fazer o JMT, uma grande parte dos caminhantes fá-lo a solo. Homens e mulheres, novos ou velhos, à procura de solidão, de vencer limites ou simplesmente porque não encontraram ninguém que estivesse disposto a perder umas férias inteiras a caminhar em montanha. Acabam por encontrar companhia nem que seja em alguns locais de pernoita ou no cimo dos colos onde invariavelmente se passa algum tempo a admirar a paisagem. Partilham-se histórias, contam-se planos, no fundo nunca se está inteiramente sozinho.

 

Dia 10 - 01.IX.2010

Início - Edison Lake (2300m); Final - Rosemarie Meadow (3000m); Distância - 20km; Subida - 1000m;

Descida - 300m.

Dado que o ferry que nos iria levar de volta ao trilho apenas zarpava às 9h tivemos tempo de comer à grande pela última vez. Um pequeno-almoço composto por ovos, fiambre, queijo, torradas com manteiga, batatas fritas com cebola, tudo com bastante gordura. Noutras circunstâncias teria sido pouco desejável, mas nesta altura...

E, lá deixámos os nossos companheiros de viagem, seguimos apenas nós o resto do caminho. Tinhamos percorrido pouco mais de 160km até aqui, faltavam 220. Connosco no barco foi mais uma série de pessoal que ia no mesmo sentido, mas como cada um vai na sua passada acabámos por não os ver mais.

O trilho começou com um zigzag de 57(!) curvas até um planalto. A partir daqui foi fácil, quase sempre ao lado do Bear Creek, até chegar a mais um local de pernoita onde os ribeiros Rose e Marie se juntam, o Rosemarie Meadow.

A passada de quem faz um trilho deste género varia muito. Apesar de a média andar pelos 20/21 dias, o recorde sem assistência é (ou era, até 2010) de 3 dias e pouco, um russo que fez o caminho quase sem parar com uma pequena mochila só com comida. Mas há quem leve o seu tempo, vá parando em todos os locais, por vezes por vários dias. A única limitação é a quantidade de comida possível de transportar para as áreas mais remotas.

 

Dia 11 - 02.IX.2010

Início - Rosemarie Meadow (3000m); Final - Muir Trail Ranch (2300m); Distância - 15km; Subida - 300m; Descida - 1000m.

O dia de hoje era fácil. O último dia fácil.

Isto porque tínhamos enviado há perto de 3 semanas um balde com comida para um rancho que o guardou até chegarmos. Os 10 dias de comida que tinhamos inicialmente já estavam a acabar e este reabastecimento iria permitir ter comida para os próximos 10. Na verdade só tinha cabido comida para 8 dias no balde, de forma que tinhamos de fazer melhor as contas.

Mas o dia começou com a subida ao Selden Pass (3300m) que mais uma vez não desiludiu e permitiu ter vistas brutais em todas as direcções. Depois foi descer, descer e descer.

Chegados ao Muir Trail Ranch à hora de almoço, estava lá bastante gente também a reabastecer. E, não só tinhamos o nosso balde, como à disposição, os baldes de muitos caminhantes que fizeram mal as contas e enviaram comida a mais. Era ver uma catrefada de esfomeados a rapinar o que houvesse de decente. Também rapinámos o nosso almoço e jantar deste dia, já que as contas do nosso balde tinham sido feitas por baixo.

Depois foi só acampar à beira do rio, onde umas termas nos esperavam. Desta vez eram uns meros buracos com lama morna, nada de especialmente convidativo...

Algo de curioso que acontecia sempre que encontrávamos alguém no caminho ou nos pontos de acampamento era uma série de perguntas. “De onde são” era a mais comum, e toda a gente se espantava com o que andavam Portugueses a fazer por ali. Será que mais algum tuga fez o JMT até hoje? Quero crer que sim. Se disséssemos que trabalhávamos no Smithsonian então era motivo para meia hora de conversa. "Sabem escolher onde trabalhar e onde passar férias" foi um elogio ouvido mais que uma vez. Mas também havia quem perguntasse em quanto tempo íamos fazer o trilho, qual a temperatura dos sacos cama, que tipo de comida levávamos (ainda tivemos de explicar o que é Cerelac), etc.

Sempre com muita simpatia, meter conversa é algo que os americanos realmente fazem bastante bem.

 

Dia 12 - 03.IX.2010

Início - Muir Trail Ranch (2300m); Final -  Evolution Lake (3300m); Distância - 22km; Subida - 1100m; Descida - 60m.

Este seria um dia complicado, aguardado desde há dias com expectativa.

Estávamos novamente com carga total, 18kg, depois do reabastecimento da véspera e íamos entrar na região verdadeiramente selvagem do percurso, em alguns pontos estaríamos a 2 dias de caminho da estrada mais próxima.

E, tínhamos uma subida de 1400m a completar em 2 dias até o Muir Pass. Curiosamente, foi dos dias em que me senti melhor. A Clara não tanto, mas a verdade é que subimos quase a passo de corrida e fizemos bem mais distância que a prevista inicialmente.

Pouco depois de começarmos entrámos no segundo dos três Parques Nacionais que iriamos percorrer, o Kings Canyon NP.

Seguiram-se as ascensões ao longo do San Joaquin River e do Evolution Creek, que tivemos de atravessar a vau. Por vezes esta travessia tem de ser feita com água a chegar perigosamente perto da cintura e uma forte corrente. Felizmente, desta feita pouco mais molhava que os pés. Este ribeiro segue pelo Evolution Valley até atingir o Evolution Lake, rodeado pelos montes Darwin, Mendel e Spencer. Muito apropriado, porque Charles Darwin, Gregor Mendel e Herbert Spencer foram dos cientistas que mais contribuíram para se perceber a teoria da evolução (metida em papel numa teoria congruente pela primeira vez pelo primeiro). Foi perto do Evolution Lake, rodeado por estas grandes figuras, que acampámos.

Para culminar, encontrámos um local elevado, abrigado, com uma vista fabulosa. Que melhor local para um biólogo passar a noite? Aproveitei para tirar uma série de fotos crepusculares e nocturnas.

Todos os caminhantes levam uma máquina fotográfica, normalmente uma compacta. Mas eu tinha mesmo de levar uma DSLR. Foi assim que andei durante os 18 dias a carregar com uma Nikon D5000 comprada usada de propósito para o trilho, dado que a minha D300 pesaria mais meio quilo. Uma objectiva versátil, 18-200, para dar tanto para paisagem como para a vida selvagem. 5 baterias, das quais só usei 3 que duram bem mais que o que pensei. Este material foi sempre pendurado ao peito com cordeletas numa bolsa pequena, sempre à mão. E finalmente um sistema que eu próprio criei, com ballhead, que permitia juntar 3 batons para fazer um verdadeiro tripé ajustável. Chegou e bastou para longas exposições de meia hora. Um dia patenteio o sistema.

 

Dia 13 - 04.IX.2010

Início - Evolution Lake (3300m); Final -  Palisade Creek (2600m); Distância - 28km; Subida - 500m;

Descida - 1300m. 

A partir de hoje seria um dia, um colo. Todos a mais de 3600m de altitude.

Mas o de hoje era o mais famoso, o Muir Pass (3644m), nome dado em honra do próprio John Muir.

Saímos ao longo do Evolution Lake, subindo para o Sapphire Lake e finalmente o Wanda Lake, no sopé do Mount Huxley, nome dado em honra de Thomas Henry Huxley, mais um evolucionista e conhecido como "Darwin's Bulldog". E assim se chegou ao Muir Pass, com a sua cabana construida nos anos 30 para casos de emergência. As vistas nunca decepcionam...

O caminho para Sul seria em grande parte em região rochosa, dada a altitude que limita o crescimento de vegetação.

A determinada altura houve mesmo que atravessar um declive com neve/gelo. E, uma marmota residente deixou-se aproximar tanto que só faltava vir comer à mão. Lagos, ribeiros, cascatas, sucediam-se vertiginosamente.

Mas, desce-se tanto que no Le Conte Canyon, a floresta reaparece. Como o dia ia longo, não chegamos onde pretendíamos, mas, ficámos a pouca distância (já a subir)… no dia seguinte viria mais.

A água abunda ao longo de todo o trilho. Lagos, lagoas, rios, ribeiras, nunca há falta de pontos onde abastecer. Sendo água corrente em zona de montanha, sem localidades, gado ou outros poluentes a montante, era invariavelmente límpida. Apesar de haver quem não o faça, usámos um filtro para garantir que era potável. Em qualquer local era só dar à bomba para ter água melhor que a do Luso.

 

Dia 14 - 05.IX.2010

Início - Palisade Creek (2600m); Final - Kings River (3100m); Distância - 23km; Subida - 1200m; Descida - 600m.

A subida do dia começou relativamente fácil, no vale do Palisade Creek, gradual.

Em breve chegaríamos a um dos pontos emblemáticos do JMT, a "Golden Staircase", um zig-zag infindável escavado numa parede quase vertical. Este foi um dos últimos troços a ser completados no trilho, já nos anos 1930, dada a dificuldade em vencer a parede.

Mas era preciso subir para chegar a um vale onde os Palisade Lakes esperavam. Estes são certamente dos lagos mais cristalinos e azuis/verdes que vi. Um sítio excelente para almoçar e descansar antes de atacar a subida final para o Mather Pass (3688m). As vistas lá de cima? Melhor nem dizer mais nada...

A descida era relativamente fácil, quase toda em terreno aberto, num caminho recto ao longo de um largo vale que levaria à travessia do Kings River.

Pelo caminho encontramos vários rangers e voluntários que procuravam uma senhora coreana, de 55 anos, perdida desde o dia anterior. Bem que os helicópteros não paravam de sobrevoar a região desde a tarde anterior. Aparentemente vinha com um grande grupo, mas a verdade é que ao longo deste troço tinhamos passado por vários membros do grupo, cada um para o seu lado. Não sei como não se perdem mais. Mas a senhora acabaria por ir dar à base de operações de busca, não muito longe do nosso local de pernoita, depois de mais de 24h perdida.

Nesta região perder o rumo é relativamente fácil. Não há casas, estradas ou outros pontos facilmente reconhecíveis. E houve mesmo uma grande quantidade de caminhantes que nos perguntavam quantas milhas faltavam para o ponto A ou B. O que dá a esta gente para vir sem um mapa ou a mínima noção de onde se estão a meter? Como tenho a mania a planear tudo ao pormenor levei mapas, livro-guia, GPS e mesmo um Spot. Trata-se de um aparelho que em caso de emergência permite chamar o SOS em qualquer parte do mundo, desde que haja cobertura de satélite. Permitiu também mandar duas mensagens por dia para familiares e amigos nos acompanharem remotamente, sabiam sempre onde andávamos.

 

Dia 15 - 06.IX.2010

Início - Kings River (3100m); Final - Woods Creek (2600m); Distância - 19km; Subida - 600m; Descida - 1100m.

Este dia foi fácil.

Apesar de se subir o Pinchot Pass (3697m), como a noite anterior tinha sido passada a mais de 3000m o desnível foi um dos menores de todos os colos. Quase toda a subida foi feita em área rochosa, despida de vegetação, com os omnipresentes lagos. Uma vez vencido o Pinchot, uma grande descida leva ao Woods Creek, por um caminho que ora se encostava ao rio, ora ficava mais alto, principalmente quando aquele se precipitava em mais uma queda de água. No fim da descida é preciso atravessar o rio. E a travessia é feita numa ponte suspensa, uma miniatura da ponte 25 de Abril (ou para usar o idioma local, da Golden Gate Bridge).

O local de acampamento, tal como muitos no Kings Canyon NP, era desta vez mais ou menos "oficial". Apesar de não ter nenhum tipo de construções, tinha uma bear box, onde quem não traga os bear canisters pode deixar a comida a salvo dos simpáticos animais. É recomendado no entanto acampar a uma certa distância desta "despensa".

O JMT pode parecer uma grande caminhada, com os seus 340kms oficiais (380 com os "acrescentos" que fizemos). Mas o que é mesmo grande é o Pacific Crest Trail. Com mais de 4000km do México ao Canadá, o percurso coincide em parte com o JMT. Quem percorre esta distância de uma só vez fá-lo em 4 a 6 meses. Mesmo assim mais de 100 pessoas atingem tal façanha por ano! Além do PCT, existem também a Appalachian Trail, e a Continental Divide Trail, para quem queira percorrer os EUA de norte a sul a pé. Só não estão nos meus planos porque um visto de turista só dura 3 meses, teria de os fazer a correr...

 

Dia 16 - 07.IX.2010

Início - Woods Creek (2600m); Final - Vidette Meadow (2900m); Distância - 21km; Subida - 1100m; Descida - 800m.

Este foi um dos dias com as melhores paisagens.

Saindo de Woods Creek começa-se imediatamente a subir até uma série de lagos que têm em comum a vista desimpedida para o Fin Dome, mais um monólito muito sui generis.

No primeiro dos lagos, o Dollar Lake (não faço ideia porquê este nome) parámos para reabastecer energias.

E, tivemos uma surpresa. Um casal de esquilos, completamente destemido, pelos vistos habituou-se à boa comida humana. Assim um saco de trail mix, frutos secos e afins, que deixámos pousado numa rocha, quando nos apercebemos já estava a ser atacado por um esquilo. Ah pois, mais fácil que andar à procura de comida pela floresta, não é? Depois de resolvermos a disputa com os esquilos (com eventual vitória deles) vieram os outros lagos. Os mais espectaculares serão sem dúvida os Rae Lakes. Uma série de lagos ligados por ribeiros, sempre rodeados por vegetação escassa mas muito interessante, nomeadamente pinheiros antiquíssimos com formas moldadas pelo vento.

A subida final para o Glen Pass (3651m) é feita num caminho mais uma vez a aproximar a verticalidade, numa escombreira que segue até o topo. Como tudo o que sobe tem de descer, lá fomos a caminho de Vidette Meadow, onde se chega depois de passar uma zona bastante interessante, meio arenosa e desértica apesar da altitude.

Algo que nos intrigou em algumas partes do percurso foi ver uma série de pessoal com os seus 20 anos a fazer trabalho pesado como seja a manutenção dos caminhos. Grande parte, se não mesmo a maior parte, raparigas. As hipóteses que se puseram foram muitas. Seriam jovens mal comportados a fazer serviço comunitário por delitos menores? Condenados a trabalhos forçados por penas maiores? Ou voluntários? Mas voluntários a partir pedra a mais de 3000m de altitude? Yep, são mesmo voluntários, dos California Conservation Corps. Há uma grande tradição de voluntarismo nos EUA e este é um bom exemplo, pessoal que não tem medo de trabalhar.

 

Dia 17 - 08.IX.2010

Início - Vidette Meadow (2900m); Final - Wallace Creek (3200m); Distância - 27km; Subida - 1200m;

Descida - 900m.

Hoje, pela primeira vez, o percurso ia passar acima dos 4000m.

Numa longa subida, sempre sem vegetação visível além da ocasional planta rasteira e adaptada à altitude, chega-se aos 4017m do Forester Pass.

Tempo de tirar fotografias, mas não pudemos ficar muito tempo lá em cima, dado que o vento começava a levantar e algumas nuvens bastante ameaçadoras aproximavam-se. A esta altitude não podiam trazer coisa boa.

Ao passar mais este obstáculo entramos no Sequoia National Park.

Logo a seguir ao colo vem uma das secções mais perigosas do trilho, um caminho escavado na rocha com queda directa para um precipício de algumas centenas de metros. Mas este é largo e passa-se bem.

Durante a descida para Tyndall Creek, onde planeávamos passar a noite, já iamos a fugir das nuvens. Encontramos aí um grupo de pessoal, na mesma situação, que nos diz as previsões: 7º negativos previstos para a madrugada. Muito frio para os nossos sacos-cama de 4º positivos (marcados, mas não confirmados, o conforto só ia até os 14º).

Foi assim que resolvemos seguir mais para a frente, até Wallace Creek que, apesar de tudo e aos 3200m, estava a menor altitude que Tyndall.

Entretanto já pensávamos no percurso que tinhamos pela frente. Será que o mau tempo vinha para ficar? Com este tempo seria possível ir ao cume do Monte Whitney? Teríamos de esperar em baixa altitude que tudo melhorasse? Tinhamos comida suficiente para a espera? O melhor era dormir e esperar pelas melhoras, logo se decidiria.

O tempo em montanha é sempre imprevisível e pode mudar repentinamente. Nada como estar preparado para o pior. Ainda por cima, sem contacto com o exterior, apenas esporadicamente e através de fontes secundárias iamos sabendo a previsão para os dias seguintes. Ainda tinhamos um rádio mesmo para essas situações, mas captar qualquer estação com informação útil era difícil, se não impossível. Ao menos ficávamos a saber que o pessoal na costa da Califórnia estava na praia com o calor, enquanto tentávamos dormir com toda a roupa no corpo.

 

Dia 18 - 09.IX.2010

Início - Wallace Creek (3200m); Final - Whitney Portal (2500m); Distância - 40km; Subida - 1600m;

Descida - 2200m.

 

Último dia, apesar de ainda não o sabermos.

A temperatura nocturna, tal como previsto, atingiu os 7 negativos, mas acordámos debaixo de um sol radioso. Menos mal. Ainda não tinhamos decidido até onde ir neste dia. Dependendo do tempo e do cansaço podiamos ficar no sopé do Whitney e fazer a ascenção no dia seguinte. Ou, se estivéssemos mesmo bem e o tempo continuasse perfeito, seguiamos já hoje. Logo se via.

Durante o percurso ainda passámos por locais cobertos de branco, tinha nevado durante a noite em muitas zonas mais elevadas. Como passávamos perto de uma casa de rangers, fomos perguntar que tal ia estar o tempo (agora estava sol mas as tempestades chegam à tarde). Boas notícias, tempo estável, sol e sem vento.

Decidimos nesse momento tentar fazer o resto do percurso ainda hoje. Iriam ser 40km em altitude com a ascenção dos 4424m do Whitney, mas estávamos bem e o tempo ia mesmo estar perfeito, era a nossa janela de oportunidade.

Subimos ao Guitar Lake, um lago com a forma de guitarra, tal como o nome indica, onde almoçamos. Uma bela massa, a única que sobrava, para termos energia para a brutal ascenção que aí começava. Sobe, sobe e depois sobe mais um pouco. A determinada altura o trilho junta-se ao que vem do Whitney Portal, o local de onde muita gente parte para ascender ao cume num só dia.

Acabou assim o sossego das últimas semanas. Terminou a wilderness.

Tal como no Half Dome, no longínquo primeiro dia, este pessoal vem apenas com uma pequena mochila e água. Malditos sejam também estes!

A verdade é que com a aclimatação e preparação que tínhamos, e, as mochilas já sem comida, como tal sem demasiado peso, não houve problema algum em os acompanhar.

O Monte Whitney, apesar da altitude, é tecnicamente muito fácil. O caminho, mesmo quando passa ao lado de precipícios, é sempre seguro, largo, com uma inclinação muito razoável. O cume em si é amplo, redondo, com um abrigo de emergência no topo onde alguns passam a noite para ver o nascer do sol.

E as vistas? Desimpedidas, 360º, afinal trata-se do ponto mais alto dos 48 estados contíguos dos EUA, sendo que no Alaska o Denali é bem maior (e mais difícil).

Oficialmente este é o fim do John Muir Trail, acabámos!

Fazemos ainda uma cache? Boa, a mais alta da minha “carreira”, a Peak-A-Boo: Mt. Whitney – [GC75C3].

Deste ponto tínhamos no entanto 2000m verticais até chegar à civilização. Foi sempre a correr até lá abaixo, onde chegámos apenas às 20h e tal, já noite cerrada.

Os últimos kms foram particularmente difíceis, já de noite, à luz de frontal, o raio do caminho teimava em não descer. Mas, desceu mesmo.

Um ano de planeamento prévio, 18 dias e 380km a andar. Tinhamos chegado ao fim, exaustos mas felizes, fizemos o mítico John Muir Trail sem incidentes.

Adeus, até à próxima!

 

Fotos / Texto: Pedro Cardoso

Notas do editor:

Artigo publicado na GeoMagazine #14.



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