18de Fevereiro,2025

Geopt.org - Portugal Geocaching and Adventure Portal

ValenteCruz

ValenteCruz

Monday, 21 December 2020 17:00

Trilhos e Quinta do Comandante

A Quinta do Comandante (GC92CH6), em Santiago de Riba-Ul de Oliveira de Azeméis, tem um passado trágico-romântico, engalanado por muitas histórias e mitos ao melhor estilo camiliano. Pertenceu a João Paes de Carvalho, comandante da Marinha Portuguesa. De visita ao Porto, o comandante apaixonou-se perdidamente por Inês Eugénia Knall. Venceu dogmas familiares para ver o amor correspondido e os dois foram habitar a mansão seiscentista da então Quinta do Outeiro, envolvida pela pacatez da província e longe do rebuliço citadino portuense. Várias lendas embrulharam depois a história de ambos, algumas com contornos fantasmagóricos, mas o que parece certo é que Inês faleceu a meio da vida e João enlouqueceu com a perda, acabando por suicidar-se em 1970.

Quando soubemos que a CM de Oliveira de Azeméis tinha criado vários trilhos pela quinta não quisemos adiar mais a redescoberta. Visitámos pela primeira vez a Quinta do Comandante nos idos de 2011 em busca da lendária Fallen Angels, que redefiniu e inspirou o letterboxing no país. Dessa noite, para além da extraordinária experiência de caça amaldiçoada a tesouro, recordo que ao terminarmos a busca notámos a chegada de algumas pessoas. Sem que eles nos tivessem notado e estando dentro da mansão, pegámos num lençol que encontramos por lá e escondemo-nos no cimo da escadaria. Quando o grupo começou a subir a escadaria, entre a escuridão e as lanternas medrosas, deixámos cair o lençol sobre as suas cabeças. Foi tão assustador e divertido que chegou a fazer cócegas na alma.

Chegámos ao lugar de estacionamento do edifício da Escola Superior de Aveiro Norte numa manhã cinzenta, mas de boas promessas. À escolha tínhamos os trilhos de caminhada, BTT e trail, que coincidem em alguns troços. Com alguns desvios pelo meio, optámos pelo da caminhada. O arvoredo outonal envolvente e as ruínas abandonadas tornam o percurso muito interessante, ideal para uma passeata bucólica. Chegámos à mansão com o entusiasmo em alta e começámos por visitar o esconderijo final dos anjos caídos, atrás dos bonitos azulejos, cujos fantasminhas ainda se mantêm colados à parede esquecida.

Por sorte, ainda conseguimos aceder ao interior da mansão, que as obras de emparedamento das janelas e portas não assegurará por muito mais tempo. Apesar da ruína e abandono, nota-se o rico passado. Subsistem resquícios de tectos elaborados, azulejos e várias pinturas. Em muitos locais, o chão e as paredes esburacadas parecem que irão ceder à próxima brisa. Cirandando por lendas e histórias, subi ao último andar e fui à procura dos registos do comandante. Talvez a meio caminho de um desespero de amor enlouquecido, entre o visível e o invisível, subsistem os escritos nas paredes que o comandante terá escrevinhado em forma de diário. É, simultaneamente, uma leitura fascinante e aterradora!

Após a redescoberta da mansão, fomos em busca das ruínas envolventes. Parece uma viagem ao passado ao melhor estilo de uma caça ao tesouro. Seguindo as pistas, encontrámos a versão mais recente do diário do comandante e registámos a nossa visita. Adorámos encontrar um recipiente e um livro que fazem jus ao legado histórico da experiência, tanto pela cache que a precedera como pelo cenário envolvente.

Continuando pelo trilho da caminhada, e após alguns desvios ao percurso de trail, alcançámos o edifício da escola e o final deste capítulo. O carácter futurista do edifício contrasta com as ruínas circundantes e perfaz um panorama muito peculiar e interessante. Na memória fica a redescoberta fantástica, por entre as reminiscências esquecidas de um amor infinito, assim como a promessa de um regresso para explorar melhor o circuito de trail.

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

 

Saturday, 17 October 2020 17:00

Reserva Natural Dunas de S. Jacinto

Numa manhã estival de outono rumámos até S. Jacinto à descoberta da reserva natural (GC32XTW), onde há dez séculos apenas existia mar. Outrora, locais como Ovar, Estarreja e Aveiro confrontavam-se diretamente com o Atlântico. Criou-se desde então uma língua de areia, que se consolidou ao longo dos séculos e formou uma ampla baía que antecedeu a laguna contemporânea. O cordão dunar conservou-se por vegetação espontânea e a florestação criada a partir do século XIX, quando decorreu também a abertura artificial do canal da Barra, que permitiu o regresso da água salgada à zona, adocicada por várias ribeiras e rios que ali desaguam, entre eles o Vouga. E assim se formou a Ria de Aveiro.

Estacionámos junto ao edifício da reserva, onde ficámos a conhecer mais pormenores sobre a história da mesma. Percebemos também que existem dois percursos circulares com distâncias distintas. Optámos pelo maior, com cerca de 7.5 km. De passagens anteriores pela zona envolvente havíamos ficado com a ideia que o percurso arenoso serpentearia apenas por vegetação rasteira comum e pinheiros bravos. Estávamos enganados. Ficámos impressionados pela qualidade do percurso e pela diversidade de vegetação, desde estornos, cardo-marítimo, soldanelas, camarinhas, cedros e acácias, como também pela sombra generosa que cobre boa parte do mesmo. Naturalmente, várias razões deveriam existir para a criação da reserva.

A meio do percurso surgiu o passadiço, com cerca de 500 metros, que dá acesso ao mar. Apesar de precisar de manutenção e ainda que a placa não o aconselhe, decidimos ir espreitar o mar. Na verdade, apenas o início do passadiço precisa de manutenção urgente e curiosamente está numa zona em que o mesmo não seria necessário. Chegámos ao final do passadiço e sentámo-nos a apreciar as pitorescas dunas protegidas, na fronteira com o mar. Após a descoberta, voltámos pelo passadiço e prosseguimos o caminho, seguindo em direção ao observatório de aves da pateira, que estava a ser utilizado por um fotógrafo especialista. Demos depois corda às sapatilhas e, sempre envolvidos por sombra e vegetação diversificada, fizemos o percurso de regresso ao edifício da reserva.

Passaram dez anos desde que descobrimos o geocaching. Geralmente descrito como uma “caça ao tesouro moderna”, rapidamente ficámos fascinados pelo contexto de secretismo do passatempo e sobretudo pelo potencial para descobrir novos locais e experiências. Dez anos depois chegámos às 4000 descobertas! No nosso caso, o passatempo acabou por nos aproximar da natureza. É sobretudo uma forma mais interessante, informada e contextualizada para descobrir locais e experiências que de outra forma poderiam não ser tão evidentes ou seriam mesmo desconhecidas. Obrigado pela partilha!

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

Friday, 10 July 2020 17:00

sunrise@CântaroMagro_20

Já se tornou tradição em mim que o solstício de verão seja acompanhado pelo vislumbre do nascer do sol no imponente Cântaro Magro, na serra da Estrela, onde a infinidade das vistas sobre o horizonte quase dão a volta ao mundo. Este ano, pelas limitações da pandemia Covid-19, a nona edição do sunrise@CântaroMagro_20 decorreu um pouco mais tarde e tornou-se familiar.

Durante o sábado, o meu plano inicial era fazer parte da subida iNtO tHe WiLd e assim engendramos a logística do carro. Chegamos a meio de uma manhã quente à Senhora do Desterro e iniciamos a caminhada junto ao canal de água do rio Alva, beneficiando da sombra. Após a passagem pela câmara de carga, seguimos pelo canal de água da ribeira da Caniça até aos Cornos do Diabo.

Após revisitar o curioso maciço rochoso, investi pela encosta até ao Porto dos Bois. O percurso complicou-se pouco depois, pela vegetação intransponível, e já não consegui chegar à Crista do Carvalhazinho. Desde a última vez que ali passei, na noite da grande aventura Oh Meus Deus – Ultra Trail Serra da Estrela 2016, o trilho deixou de ser frequentado, inclusive por pastores. Ainda fiz uma tentativa de subida pela ribeira, mas as variáveis eram muitas e não poderia atrasar o encontro na Lagoa Comprida.

Voltei para atrás, ainda a tempo de uma mudança de planos. Acabei deposto da organização e passei a tarde em praias fluviais. Fomos primeiro à interessante praia da Lapa dos Dinheiros e acabámos na concorrida praia fluvial de Loriga, onde nos delongamos no doce fazer nada, estendidos ao marasmo.

Rumamos depois ao Cântaro Magro e ficámos a saber que a estrada para Covilhã/Manteigas está cortada desde a rotunda de acesso à Torre, há já alguns meses, para arranjo do túnel que fica mais baixo. Deixamos o carro por ali e seguimos finalmente para o Cântaro Magro. É sempre fascinante admirar o gigante de pedra, sentir um assombro de inacessibilidade e vencê-lo logo de seguida.

À chegada ao topo tivemos oportunidade de contemplar um pôr-do-sol com cores magníficas. Os últimos raios de luz pintalgaram as nuvens num tom escarlate no céu azul. Instalou-se depois a noite e o silêncio. Como estava lua cheia nem precisamos de lanternas para vaguear pelo topo do cântaro. Aproveitei também para revisitar o manuscrito d’O tempo inquieto, que vai sobrevivendo à humidade. Com a ajuda de uma aplicação de telemóvel percorremos o caminho das estrelas e encontramos a lua alinhada com Júpiter e Saturno. O jantar arrastou-se depois por petiscos vários, mais ou menos serranos, e bom vinho.

O bom tempo e a ausência de vento acabaram por tornar a estadia muito agradável e deu para descansar mais do que o habitual. O sol apareceu pouco depois das 6h00, num céu limpo e sem nuvens, mas com a mesma magia de sempre. O astro rei pode nascer em todo o lado, mas ali tem uma envolvência e significado especiais.

Após um pequeno-almoço nas alturas, a descida do cântaro fez-se sem problemas. Passamos pela Torre para cumprimentar o pináculo lusitano e seguimos depois para a Lagoa Comprida, onde aproveitamos para uma caminhada, com vistas para o manto de água, até à Lagoa do Covão dos Conchos, onde pudemos assistir à romaria ao funil. No regresso ainda passamos na outra extremidade do túnel, onde a água desagua na Lagoa Comprida.

Foi um sunrise@CântaroMagro atípico, mas excelente! Teria gostado de ter mais amigos lá em cima, mas gostei de me reencontrar com o silêncio do cântaro e com uma certa essência original que se foi perdendo ao longo dos últimos anos. Gostei de viver a experiência sem a preocupação constante de colocar e retirar dezenas de pessoas do cântaro. Gostei de gerir a escolha do fim-de-semana conforme a meteorologia (em condições normais, seria uma semana antes e estaria mau tempo). Gostei de ter tempo para mim, nesta singela homenagem anual a uma experiência e locais inspiradores. Por tudo isto, talvez algumas mudanças venham para ficar. Para já, acrescento excelentes memórias a mais um sunrise@CântaroMagro.

Artigo publicado em cruzilhadas.pt

 

Page 3 of 33
Geocaching Authorized Developer

Powered by the Geocaching API..
Made possible through the support of Geocaching Premium Memberships, the API program gives third-party developers the opportunity to work with Geocaching HQ on a full suite of integrated products and services for the community. API developer applications are designed to work with the core services of geocaching.com and provide additional features to the geocaching community.

Geocaching Cache Type Icons © Groundspeak, Inc.
DBA Geocaching HQ.
All rights reserved. Used with permission.

Connect

Сыграйте на покердом. Вы сможете тут победить. Это точно...

Newsletter