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07 April 2017 Written by 

Caminho do Xisto da Benfeita

Event Cache

  

Caminho do Xisto da Benfeita III

O Caminho do Xisto da Benfeita é um percurso circular com cerca de 10 km no coração da Serra do Açor, no concelho de Arganil. Saindo da aldeia, a parte inicial do percurso deambula pelos resquícios de uma agricultura que vai sobrevivendo ao tempo e ao abandono. Os socalcos, as vinhas e os olivais parecem ter sido criados a régua e esquadro, aproveitando os terrenos das encostas conquistadas pelo Homem. Os prados estendem-se de verde pelas margens da ribeira desde a aldeia até montante. Num ambiente bucólico, prosseguimos pelo trilho que fura entre campos e fomos encontrando alguns moinhos em relativo bom estado de conservação.

À medida que se sobe a ribeira o terreno torna-se mais íngreme e surgem os balcões de xisto entre os socalcos. Termina a zona que ainda vai garantindo uma agricultura de subsistência e entra-se num espaço que está a ser paulatinamente recuperado por uma natureza mais selvagem. Os socalcos vão ficando preenchidos de vegetação e o acesso à ribeira complica-se.

Tivemos então a benesse de a nossa visita ser pós-outonal. As folhas caídas preenchiam o percurso e as árvores ganharam uma paleta de cores que tornaram o cenário muito pitoresco. Cada estação tem o seu encanto, mas estas cores são imbatíveis. O trilho tinha ainda outro ponto cromático e alimentício de interesse, já que era a época do medronho. Para além de nos reconfortar o estômago, o chão pintalgado de vermelho alegrava-nos a vista.

Cirandando pelas encostas, fomos subindo a ribeira até encontrarmos uma parede em forma de fortaleza. Com o verde envolvente, parecia um paraíso perdido de sentidos. É sempre interessante ver as diferentes formas que o homem tem para domar os cursos de água aos seus interesses. Depois de um pequeno desvio até à cascata, subimos pela vertente mais acidentada e chegámos ao topo do vale. Tivemos então uma visão inteira do que havíamos percorrido.

O percurso abandonou depois as linhas de água e subiu a encosta em direção à aldeia do Sardal. Pelo meio aproveitámos para fazer uma paragem para o almoço e reter as vistas. Entretanto, a paisagem alterou-se. A vegetação e o arvoredo variado deram lugar aos pinhais cerrados. O passo tornou-se mais lesto e começámos a vislumbrar o Sardal. Mais acima reencontrámos os campos agrícolas em luta com o abandono e entrámos na aldeia, contornando a sua história de isolamento. Atingimos o ponto de maior altitude e a partir daquele momento o percurso seria maioritariamente descendente.

Socalco após socalco, do outro lado da ribeira vislumbrámos uma casa em construção. É sem dúvida um local de excelência para quem quer uma vida regada com paz e sossego. A passagem pela ribeira de Enxudro marcou mais um ponto de excelência no percurso. Aproximávamo-nos da famosa Fraga da Pena, pelo que a natureza parecia guiar-nos para uma beleza ímpar. Avistámos mais algumas casas a montante das famosas cascatas e quando julgávamos que estaríamos perto de entrar naquele mundo encantado, reparámos que o percurso continuava pela encosta para Pardieiros. Percebemos então que o trilho está desviado da Fraga da Pena. Não sabemos se se trata de alguma medida de segurança, mas é pena que o percurso se desvie daquela beleza natural. Decidimos então continuar, mas resolvemos que no final visitaríamos o local.

A passagem por Pardieiros foi rápida e descemos em direção à ribeira da Mata. À medida que progredíamos percebemos que existem de facto muitas pessoas por lá a recuperar casas devolutas, em particular estrangeiros. O sossego e o bucolismo desta serra convencem cada vez mais pessoas a alterar os seus modos de vida e o isolamento parece estar na moda!

Acompanhando a ribeira, fomos passando por antigos campos e vimos várias casas que anseiam por recuperações. Apanhámos então uma levada de água que nos devolveu à Benfeita pelos socalcos de um regresso civilizacional. No final, ficou a certeza de termos realizado um magnífico percurso num cenário fascinante. É um prazer reencontrar estes resquícios de portugalidade esquecida.

Para terminar em grande, fomos revisitar e fotografar a Fraga da Pena, ex-libris da região, e cruzámos em espanto a encantadora Mata da Margaraça numa promessa de um regresso primaveril.

Artigo publicado na GeoMagazine #25.

 

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