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Algo inexplicável se passou. Aterraram em Maiorca, no aeroporto San Joan e, de repente, sem qualquer tipo de aviso, atravessaram um portal espaço-temporal que os colocou num território alemão. Há, de facto, algumas pessoas que insistem em falar castelhano, catalão ou até mallorquin. Esses são os mortais que resistem. Todos os outros falam alemão, inglês, francês, italiano, etc.
Maiorca é uma das cinco principais ilhas que compõem as Baleares, um arquipélago no meio do Mediterrâneo. É a maior das ilhas, tendo Palma como a sua capital. É desde há quase um ano, uma paisagem muito familiar. Abraçei um novo desafio profissional e mudei-me de malas e bagagens para esta ilha. A família, idem. Não se está mal, em particular quando família e amigos nos visitam.
Ao longe, Maiorca destaca-se. Ao perto, percebe-se porquê. Todos já passámos os olhos por um qualquer folheto turístico onde as praias da ilha são destacadas. A água é fantástica e os 300 dias de Sol por ano ajudam a construir uma imagem fabulosa. A Serra da Tramuntana, classifcada pela Unesco como Património Mundial em 2011 é surpreendente. Tenho-a como wallpaper de onde trabalho e, é claramente um benefício. Faz-me lembrar a Serra da Estrela, imponente e, pasme-se, já a vi com neve neste Inverno(!). É o contraste que complementa a experiência em Maiorca. Se estão cansados das praias de areia fina, águas quentes e transparentes (é possível cansar-se disto?!), vão à descoberta da montanha. É marcante!
Durante os anos em que fui revisor voluntário da Groundspeak, ocupei-me de toda a Espanha e, mais tarde, com a chegada dos novos revisores espanhóis, mantive a revisão das Baleares. Já havia visitado o arquipélago em tempos, tendo ficado apenas por Ibiza e Formentera, ilhas fantásticas para visitar e para fazer geocaching, claro! Esta decisão de ficar apenas com as Baleares, apesar de ser Português, está relacionada com a forma como começo este texto. Maiorca é considerada o 17º estado Alemão, como piada, claro… Não aconselho dizerem isto a qualquer espanhol, catalão ou, pior, a um maiorquino. Para evitar que os novos revisores espanhóis tivessem uma má experiência, optei por lidar com esta comunidade. Não que o meu alemão vá para além de Volkswagen, Audi, Sprechten zie Deutch?, Ich war da (fruto da visita a Genselkirchen para ver o meu FC Porto a vencer a Liga dos Campeões) e pouco mais…
Para sobreviverem em Maiorca não precisam de saber Alemão. Dá jeito, mas não é absolutamente necessário. Suspeito que vão dizer o contrário quando depois de caminharam 10km pela Tranmuntana,atrás de uma multi e, ao chegarem ao ponto zero, reparam que a dica está apenas em Alemão. Para piorar, não há sinal de rede no telemóvel e o que sabem conhecimento resume-se apenas a algumas marcas de automóvel. A experiência pode dar lugar à frustração. Convém esclarecer que não há qualquer obrigatoriedade em deixar a descrição, dica ou outros elementos na língua do território, nem sequer no inglês. No entanto, o bom senso ensina-nos a fazê-lo de uma forma mais inclusiva, até porque não faltam ferramentas para traduzir qualquer expressão entre idiomas. Não ficará a 100%, mas a tradução será suficiente para vos safar na ocasião que escrevi.
Apesar deste cenário, há uma crescente e simpática comunidade de geocachers em Maiorca, quer locais, quer de estrangeiros agora residentes na ilha. Os eventos sucedem-se e, se por acaso a visitarem, não se esqueçam de marcar um evento para conhecer alguns dos seus representantes.
Geocaching en M
Começando pelo mais fácil, o geocaching urbano em Palma, principalmente. Com uma ou outra diferença, o geocaching aqui é igual a tantos outros locais. Há exemplos engraçados, em particular junto a monumentos históricos e outros junto ao Passeo Marítimo. O resto leva-nos, por vezes, a questionar o interesse de colocar uma cache exactamente ali. Certamente que parecia uma boa ideia na cabeça do owner.
Mas, é quando nos afastamos da cidade que há muito mais que descobrir. A zona norte da ilha é, conforme descrevi, dominada pela Serra da Tranmuntana. É aqui que estão reunidas as caches com mais favoritos e com o maior grau de terreno. A Serra é agreste e imponente. São caches já criadas pelos locais, mais conhecedores do terreno, mas também por estrangeiros residentes que culturamente nutrem o gosto pelas caminhadas e pelo desafio da natureza. Desde Andratx até ao fabuloso Cap Formentor há muito por onde escolher. Para quem se quer ficar apenas por caches fáceis, à beira da estrada, por exemplo, existem as suficientes para se entreterem pelas estradas sinuosas de montanha. Dos pontos escolhidos, dos que até agora descobri, há um bom senso na partilha dos locais onde as caches estão colocadas. Destaco as caches junto das populações que marcam a Serra e a ilha:
Andratx e Port D’Andratx, vilas junto à costa com um encanto natural. São particularmente interessantes as caches junto ao porto assim como as que estão colocadas nos montes que rodeiam o porto de onde se pode ter uma vista inesquecível desta região.
Seguindo pela estrada, ao longo da formação montanhosa, correm-se vales até Estellencs ou Puigpunyent. É uma sequência de curvas contra curvas que vos acompanhará até sairem desta área. Há um encanto natural para quem gosta de conduzir, não só pelas vistas, mas pela condução. De carro é mais confortável, de mota, mais emocionante. As caches começam a aparecer mais dispersas, mas todas, à partida, com interesse semelhante. O terreno torna-se mais agressivo, as escarpas mais acentuadas e aquela cache que nos aparece a 50 metros do estacionamento está, na realidade, 300 metros mais alta que a nossa posição. É obrigatório estudar o terreno caso queiram uma aventura mais prolongada.
A partida daqui, quatro escolhas possíveis: Ou seguem mais junto à costa e vão para Banyalbulfar, Valdemossa, Deià e Sóller, ou decidem ir pelo vale que corta as montanhas, por Bunyola, Orient e Alaró. A escolher, iria pelo caminho junto à costa, apesar da alternativa também ter motivos de interesse, já que o vale é lindíssimo, com uma paisagem repleta de vinha e terras de cultivo. Ora, junto à costa, ou perto dela, encontram das vilas mais históridas da ilha, Valdemossa e Sóller (e claro, Port de Sóller). Em relação a esta última, podem chegar até ela através do comboio histórico que parte do centro de Palma. Recomendo. Depois de uma rápida busca pelo nome destas localidades encontram o motivo de serem tão famosas. São pitorescas e continuam assim, apesar da forte presença turística.
A estrada torna-se mais sinuosa ainda. Para trás ficam os enormes reservatórios de água, os embalses de Cúber e Gorg Blau, bem perto de Puig Major, o pico mais alto da ilha. A vista do topo é soberba e obrigatória. Fotos, muitas fotos pelo caminho, pelas caminhadas, dos n miradouros que encontram ao longo do caminho.
Bom, estão fartos de curvas? Se sim, passem à frente ou continuem noutro artigo qualquer.
Chegaram de uma das estradas mais épicas da Europa, quem sabe, de todo o Mundo: Carretera Sa Calobra!! São 13 km de curvas, curvas, rectas, curvas e ainda curvas. De carro, de mota, a pé, de gatas, escolham o meio, a experiência, vivida de diferentes formas, será sempre assombrosa. É a estrada que nos leva da Serra até a outro ponto de interesse, Torrent de Pareis, uma praia encaixada entre dois penhascos, onde desagua a ribeira com o mesmo nome. Há caches ao longo do caminho, quem sabe se não servem de paragem para que algum dos passageiros se possa aliviar depois de tantas mudanças de direção. No final, a recompensa da praia, da pequena localidade ali perdida, a água transparente e todo um ambiente único. A boa notícia é que precisam de voltar de onde vieram, ou seja, percorrer os 13km desta estrada épica de novo.
Voltando ao coração da Tranmuntana, seguem para Lluc, Pollença e, com o Mediterrâneo mais perto, Port de Pollença. As vistas mudaram, mas continuam igualmente imperdíveis. O objetivo é Cap Formentor. Esperam-vos mais curvas, mais montanha até chegar a este impressionante cabo com uma imponência fenomenal. Caches, sim há. E, se vieram para as encontrar, força. Se não vos sobra tempo, contemplem o que está à vossa frente e a viagem que fizeram. Maiorca também é isto.
Aparentemente, ficam a faltar algumas palavras sobre o resto da ilha. O seu interior é muito semelhante ao nosso Alentejo, contudo, mais verde, dada a proximidade do ar e humidade alta que é uma constante durante todo o ano. Ficam a sobrar o olhar sobre as paisagens costeiras e as suas praias. É o que destaco das vertentes Nordeste, Sul e Sudeste da Ilha, com honrosas exceções do Sudoeste. Faltam-me palavras para as descrever. As temperaturas começam a aquecer a partir de Abril/Maio e é possível ir à praia em Novembro. Se a isto juntaram a areia fina, praias com uma paisagem encantadora e a água quente… E, tudo isto já aqui ao lado, literalmente. Entre elas, há caches para todos os gostos, desde micros colocadas por um verenaneante no estacionamento a caches subaquáticas, colocadas em ilhotas, etc.
Mesmo sem saberem alemão, as Baleares e, em particular, Maiorca é um destino surpreendente. Se precisarem de dicas, apitem.
Benviguts!
Texto / Fotos: Hugo Silva (SUp3rFM & Cruella)
Artigo publicado na GeoMagazine#25.