Numa manhã estival de outono rumámos até S. Jacinto à descoberta da reserva natural (GC32XTW), onde há dez séculos apenas existia mar. Outrora, locais como Ovar, Estarreja e Aveiro confrontavam-se diretamente com o Atlântico. Criou-se desde então uma língua de areia, que se consolidou ao longo dos séculos e formou uma ampla baía que antecedeu a laguna contemporânea. O cordão dunar conservou-se por vegetação espontânea e a florestação criada a partir do século XIX, quando decorreu também a abertura artificial do canal da Barra, que permitiu o regresso da água salgada à zona, adocicada por várias ribeiras e rios que ali desaguam, entre eles o Vouga. E assim se formou a Ria de Aveiro.
Estacionámos junto ao edifício da reserva, onde ficámos a conhecer mais pormenores sobre a história da mesma. Percebemos também que existem dois percursos circulares com distâncias distintas. Optámos pelo maior, com cerca de 7.5 km. De passagens anteriores pela zona envolvente havíamos ficado com a ideia que o percurso arenoso serpentearia apenas por vegetação rasteira comum e pinheiros bravos. Estávamos enganados. Ficámos impressionados pela qualidade do percurso e pela diversidade de vegetação, desde estornos, cardo-marítimo, soldanelas, camarinhas, cedros e acácias, como também pela sombra generosa que cobre boa parte do mesmo. Naturalmente, várias razões deveriam existir para a criação da reserva.
A meio do percurso surgiu o passadiço, com cerca de 500 metros, que dá acesso ao mar. Apesar de precisar de manutenção e ainda que a placa não o aconselhe, decidimos ir espreitar o mar. Na verdade, apenas o início do passadiço precisa de manutenção urgente e curiosamente está numa zona em que o mesmo não seria necessário. Chegámos ao final do passadiço e sentámo-nos a apreciar as pitorescas dunas protegidas, na fronteira com o mar. Após a descoberta, voltámos pelo passadiço e prosseguimos o caminho, seguindo em direção ao observatório de aves da pateira, que estava a ser utilizado por um fotógrafo especialista. Demos depois corda às sapatilhas e, sempre envolvidos por sombra e vegetação diversificada, fizemos o percurso de regresso ao edifício da reserva.
Passaram dez anos desde que descobrimos o geocaching. Geralmente descrito como uma “caça ao tesouro moderna”, rapidamente ficámos fascinados pelo contexto de secretismo do passatempo e sobretudo pelo potencial para descobrir novos locais e experiências. Dez anos depois chegámos às 4000 descobertas! No nosso caso, o passatempo acabou por nos aproximar da natureza. É sobretudo uma forma mais interessante, informada e contextualizada para descobrir locais e experiências que de outra forma poderiam não ser tão evidentes ou seriam mesmo desconhecidas. Obrigado pela partilha!
Artigo publicado em cruzilhadas.pt