Como não estivemos na inauguração do PRM3 – Rota dos Cabeços (ver track) - Oliveira de Frades, logo que a disponibilidade nos abriu uma janela de oportunidade resolvemos aproveitar a descoberta. Já conhecíamos algumas partes do trilho e todas as razões são boas para regressar ao Caramulo. Sabíamos que nos esperava uma caminhada exigente, mas fomos com tempo e vontade de superarmos todos os cabeços a haver. Estacionámos no largo da igreja e seguimos o nosso caminho pelas ruas graníticas da aldeia. Depois de cruzarmos o ribeiro, investimos na direção do cruzeiro. Aos poucos, à medida que íamos subindo a encosta, Varzielas rebaixava na paisagem serrana, até que surgiu inteira numa visão emoldurada do vale.
Ao chegarmos ao Cabeço das Feiticeiras, já com as principais dificuldades vencidas, aproveitámos para descansar e lanchar. Depois de uma voltinha sobre o Vale de Besteiros, com a longínqua Estrela engalanada com um véu de noiva, iniciámos a descida para a aldeia da Bezerreira. Depois dos cabeços, passámos por algumas zonas de floresta e entrámos nos Jardins da Bezerreira, onde os prados se mantêm verdes e úteis. Contornando as ruelas apertadas da aldeia, iniciámos a subida da serra a ficámos a conhecer mais um novo elemento arquitetónico da região: a casula. Previamente tínhamos feito apostas sobre o que seria e acabámos por, numa mescla das hipóteses, acertar na resposta. Na montanha, as dificuldades acabam por aguçar o engenho e a criatividade.
Na volta pela serra, torneando os gigantes eólicos, fomos visitar o penedo que abana, mas o calhau mostrou-se pouco dado a movimentos. Descemos da serra, cirandámos pelos prados e passámos de raspão pela aldeia, prosseguindo para a Corga da Ribeira. Esta era uma das partes do percurso que já conhecíamos e gostámos bastante de regressar. A ribeira escapou ao incêndio e o vale segue verdejante ao longo de todo o percurso. À medida que fomos descendo encontrámos alguns moinhos que já caíram no esquecimento. Cobertos de musgo, parecem estar a refazer um caminho de regresso à Natureza. Esta parte do percurso é bastante bucólica e agradável. Parece que a qualquer momento alguma das árvores poderá ganhar vida e mostrar o Ent que habita dentro de si.
Mais abaixo, encontrámos a rio Águeda e seguimos pelas suas margens com a curiosidade latente. Esta era uma zona desconhecia e cuja descoberta muito nos agradou. Para aproveitamento das águas, foram construídas várias represas ao longo do leito. Assim, o rio espraia-se em lagoas e cascatas sucessivas, muito convidativas a épocas mais estivais. Antes e depois da ponte “Indiana Jones” encontrámos diversos moinhos, também caídos no esquecimento. Após uma nova mudança de margem por umas poldras inventadas, o percurso tornou-se um pouco mais acidentado. O rio galga a penedia imposta em sucessivas cascatas naturais. Também o trilho fura, literalmente, pelos penedos, no Cabeço da Solheira. Para ajudar à progressão, várias cordas foram estrategicamente colocadas nos locais mais difíceis.
Empolgados pelo percurso, antes do Penedo das Inscrições, acabámos por fazer mais um desvio e descer para onde não era necessário, mas foi bastante interessante. No rio encontrámos mais um cenário muito fotogénico. Passando para a outra margem, seguindo por um canal de água caído em desuso, conseguimos mais uma visão sobranceira sobre o vale. O regresso a Varzielas fez-se por caminhos florestais, mas ainda tivemos a oportunidade de fazer mais um pequeno desvio pela zona limítrofe. No final, as dificuldades vencidas tornaram-se em sorrisos na memória. Ficou a certeza de um ótimo dia de Natureza, cruzando os cabeços que a serra achou por bem desenhar e aproveitando o bucolismo inspirador dos trilhos próximos das linhas de água.