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28 August 2019 Written by  Ricardo Ribeiro

Ásia 2017 – Dia 70 – Timor Leste

Este foi o último dia efectivo desta viagem. A partir do dia seguinte seria regressar a Portugal. Durante vários dias. E então tinha ficado combinado com a Katy irmos procurar os traços portugueses de Liquiçá. Uma pequena cidade não muito longe de Dili, junto à costa, para Oeste, por onde tinha passado na minha chegada à capital timorense.

Lá fomos, no carro deles, passando primeiro por Dili, seguindo para o nosso destino. Com tempo, há muitos pontos de interesse neste trajecto. Pequenos detalhes, altos de estrada com vistas fabulosas sobre a costa, bancas de venda de peixe, um estaleiro, aldeias que se cruzam e praias que passam junto a nós.

Fazemos uma paragem antes de Liquiçá, para visitar as ruínas da antiga prisão que ali se encontra. No local há um guia, oficial, e não se paga nada, nem para visitar as instalações nem pelo seu acompanhamento. Da prisão não restou muito. As paredes dos edifícios e as estórias do guia, que se encontram também nos painéis ali colocados quando o local foi requalificado há uns poucos anos. O sol já destruiu alguma da informação, mas noutros os textos estão ainda bem visíveis.

Deixamos o carro junto à antiga casa do governado, em Liquiçá. Aqui, na cidade, colocaram-se painéis explicativos junto aos principais pontos de interesse, uma enorme ajuda para os visitantes, como nós. Mas muitos deles já foram destruídos e vandalizados e nunca foram repostos. Um projecto sem continuidade, um impulso de momento de uma ONG.

A casa está abandonada. Dá para perceber que foi utilizada e ligeiramente renovada na era indonésia, mas hoje está negligenciada, portas abertas. Se fosse noutro país já teria sido ocupada, mas por alguma razão mantém-se desimpedida. Exploramos o salão, os espaços exteriores, a piscina que terá muitas estórias para contar, as garagens. Sem dúvida que a propriedade viveu muito. Imagino as conversas que aqui tiveram lugar, as decisões feitas….

Dali explorámos um pouco a pé. Há outras casas de origem portuguesa. É preciso não esquecer que Liquiçá teve uma importância que já não tem. Vimos outros edifícios administrativos, a escola. Num deles pedimos a um guarda para entrar. É uma repartição pública, talvez o equivalente à junta de freguesia. Depois seguimos noutra direcção, vamos rumo ao mar. A construção torna-se mais escassa. Descobrimos um antigo hotel, é uma coisa pequena, mas pelo que lemos parece ter sido um alojamento VIP para quem chegava de Portugal, em negócios privados ou serviço público de monta. A localização é privilegiada, junto à praia.

Descemos ao areal. Estão ali uma série de sepulturas católicas, e perto delas, já na praia, um homem ocidental, talvez português, parte de um quadro idílico, com o mar ali próximo e a sua mota estacionada ao lado. Ao longe vemos que uma embarcação de pesca tradicional chegou. Há homens que acorrem e, calmamente, vamos caminhando naquela direcção.

Lá estão eles, descarregando o pescado. Um dos homens, um pouco mais velha, conversa connosco, em português. A sua impressionante história ficou registada num artigo que lhe dediquei: José Menezes, o Sobrevivente. Depois deste agradável bocadinho fomos regressando, passando em frente à antiga alfândega de Liquiçá. Mais à frente revimos a Igreja, que agora, depois do que o José nos disse, olhamos com outros olhos. E nisto chega-me aos ouvidos um som angélico. São os jovens do canto coral que ensaiam. Conhecemos ali um dos formadores de catequese, que tinha estudado em Portugal, em Braga.

Faziam-se horas de irmos regressando. A manhã chegava ao fim e pelo caminho decidimos ir almoçar ao sítio dos churrascos onde tínhamos jantado juntos. Parámos numas salinas, que queria ver de perto e seguimos para a refeição. Mas não correu muito bem. As senhoras da venda que escolhemos ficavam a dever à simpatia e a carne estava horrivelmente mal passada. Não consegui tocar naquilo, valeu apenas pelo momento.

Havia muitos timorenses por lá, como parece acontecer sempre. Ficámos à conversa e a observar as pessoas. Depois a Katy foi-me mostrar o centro comercial, que tem cinema e uns cafés à portuguesa. Começou a chover, e quando chove, chove a sério. No caminho para casa vi como os “putos” timorenses adoram ir para o mar quando está a chover, é um chamamento a que não conseguem resistir.

E pronto, a viagem está a terminar. Já não se passa mais nada. Quero repousar. Não é preciso mais. Está na hora de começar a voltar a casa.

Artigo do blog Cruzamundos. Mais textos em http://www.cruzamundos.com

 

 



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