Moedas
Uma das coisas que o viajante notará depois de alguns dias no Japão é que as moedas parecem nascer nos bolsos. Rapidamente a situação se torna numa espécie de luta pela sobrevivência. Quando pensamos que já nos vimos livres de todas aquelas moedas, logo surgem mais.
Nunca percebi bem porque é que acontece, mas a verdade é que acontece. E não há nada a fazer, para além do esforço natural… facilitar trocos, tentar pagar com as muitas moedas que tilintam no bolso. Chega a ser caricato.
Casas de Banho
O Japão é um dos países mais xixi-friendly que conheço. Existem sanitários públicos por todo o lado. Quase sempre impecavelmente limpos. Estações de metro? Sim. Parques públicos? Sim. Gratuitas, claro. E se isto não chegar, ninguém leva a mal se entrar num restaurante para usar a casa de banho.
Lojas de Conveniência
De certa forma as lojas de conveniência no Japão são como as casas de banho: estão por todo o lado. Existem duas grandes redes: Seven Eleven e Lawson’s, e não é preciso andar muito até descobrir uma. Excelentes para comprar um lanchinho rápido ou um chá, café ou chocolate quente nos dias frios. Se for a única coisa por perto do hostel, há até refeições rápidas já preparadas ou congeladas. Dor de cabeça, resfriado? Também têm uma secção de medicamentos.
Água de Beber
Aquilo de andar sempre com garrafinhas atrás e no fim das férias, ao fazer-se as contas às despesas, ficar-se de boca aberta com o que se gastou em água, não se aplica ao Japão. A água é boa para beber vinda, por assim dizer, ao natural, desde as torneiras da rede pública. Não só é sanitariamente boa como é fresca e de sabor agradável. Nenhuma razão para mandar mais plástico para o mundo e comprar garrafas de água a toda a hora.
Telemóveis Danificados
Isto pode não ter interesse nenhum para o viajante, mas ficou-me na vista e tenho que contar: o número de telemóveis com o ecrã partido que fui vendo no Japão é incrível. Nem me lembro já quem e onde, mas por todo o lado vi pessoal a usar telemóveis cujo visor se encontrava todo estilhaçado. Isto surpreendeu-me. Esperem lá, não estamos no Burkina Faso, estamos no Japão, o país do dinheiro e da tecnologia? Porque é que estas pessoas não arranjam os seus equipamentos é um enigma que trouxe do Japão. Dica: o mesmo se passa na Coreia do Sul.
Mitos Desmistificados
Se calhar sou só eu. Ou era. Que tinha estes preconceitos sobre o Japão, que alimentava estes mito sobre o país do Sol Nascente. Não sei onde fui buscar estas ideias, talvez tenha crescido com elas, mas havia uma série de coisas que esperava encontrar no Japão e afinal… era tudo diferente. Talvez esta diferença entre o esperado e o encontrado tenha ajudado a desenvolver o meu gosto real pelo país, onde desejo muito regressar, especialmente no Outono e depois, quem sabe, na Primavera, na famosa época das flores de cerejeira.
Não, Não é Caro
Cresci a ouvir que o Japão era um inferno de preços. Tudo caríssimo. Que não se podia? Viajar no Japão… ufff… um dinheirão. Depois, quando me embrenhei no mundo das viagens, começaram a dizer-me que sim, mas que enfim, não era nada impossível, com algum cuidado o comum dos mortais podia atrever-se. E fui. E quando chego vejo que afinal as coisas não são nada assim. Em muitos aspectos é mesmo mais barato que no meu país. Vamos aos factos? Passe para os transportes públicos (metro) em Tóquio: 3 Euros por dia. Voo entre Kyoto e Tóquio: 25 Euros. Refeição em restaurante barato, que se encontram por todo o lado, abertos 24 horas: 3 ou 4 Euros… bebida não é preciso, a água, sempre fresca, é à discrição. Autocarro entre Tóquio e Kanazawa, umas seis horas na estrada: 25 Euros. Comboio entre Kyoto e Osaka: 3 Euros. Hostéis, de qualidade, entre os 8 e os 13 Euros. As atracções, bilhetes e afins, andam pelos preços de Portugal. Se há coisas mesmo caras? Há, mas não são muitas: os comboios de alta velocidade. E mais? Não me ocorre.
Robótica e Automatização?
Era eu criançita – olhem que não vou para novo – e já se ouvia falar no desenvolvimento dos robots nipónicos e na automatização das coisas no Japão. E contudo, vou lá e o que vejo? Que ao contrário de tudo isso, a utilização de mão de obra humana chega a ser exagerada. E com frequência. Vêem-se pessoas a efectuar tarefas de forma desproporcionada, duas ou três pessoas para o que o esperamos que seja feito por uma. Ou uma, a fazer coisas em que não vimos lógica. Dá a ideia que é preciso empregar e emprega-se, só porque é preciso. Mesmo que seja para fazer perto de nada.
O Caos das Grandes Metrópolis
No início não queria ir a Tóquio. Arranjei todas as desculpas, mas lá no fundo sabia que tinha um medo que não queria admitir. Medo de me sentir perdido num mundo estranho, esmagado pelo que nas imagens do meu imaginário era uma metrópolis com uma multidão inclemente, um universo imenso, confuso, caótico para um forasteiro. Depois vi aquela promoção, um voo por 25 Euros, de Kyoto, e tive um momento “what a hell!” e comprei. Para fazer as coisas mais stressantes, cheguei ao início da noite. Aterrado em Narita, comecei logo a descobrir que Tóquio não era o papão que a mitologia de viagem tinha criado na minha mente. Num instante comprei o passe para o metro, troquei dinheiro e encontrei o comboio mais adequado para o meu hostel. E nos dias que se seguiram as coisas mantiveram-se assim: simples, fáceis, amigáveis. Adorei Tóquio. Talvez pelas expectativas negativas que levava.
As Pessoas não são Estranhas
Tinha na minha ideia uma multidão de japoneses quase como um mar de extra-terrestres. Gente esquisita, cheia de taras e desvios, sociedade doente, com um sem número de bizarrias. E afinal não é nada disso. Aliás, se pensar em chineses e coreanos, os japoneses de repente tornam-se um exemplo de “normalidade”. Normalidade aos meus olhos, de português, de europeu, de ocidental. Imagino que algures naquelas metrópolis repletas de pessoas existam muitos freaks. Eu é que não vi nenhum durante as duas semanas que por lá andei.
Wi-Fi? Onde?
Ia a pensar que estaria rodeado de internet pública por todo o lado e afinal não. Quem diria. Na terra da teconologia não é assim tão fácil como isso encontrar uma rede Wi-Fi aberta. Há, claro. Simplesmente não com a abundância que eu imaginava. Na rede de comboios, há Wi-Fi nas estações mais importantes. Nas outras não. No metro de Tóquio o mesmo, e dentro das composições, não. Restaurantes económicos, não. Na via pública, grandes praças, etc, também não… até pode acontecer, mas não é certo. Fiquei surpreendido. Só isso.
Artigo do blog Cruzamundos. Mais textos em http://www.cruzamundos.com/