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10 August 2016 Written by  Ricardo Ribeiro

Locais: O Velho Posto dos Correios, Amman, Jordânia

E de repente, num momento de pura surpresa, fui transportado para um mundo mágico, repleto de referências do meu imaginário. É verdade que isto dos imaginários é terreno movediço. Nenhum é igual a outro. Existem, é certo, pontos comuns, geracionais. Mas o que quero dizer é que dos vossos imaginários sobre as Arábias eu não sei. O meu tem muito de Tintim, uns toques de Lawrence da Arábia e pitadas de influências que o tempo lavou da memória, deixando apenas os seus resíduos depositados no fundo do subconsciente. E tudo isso se reunia ali, naquelas salas do primeiro andar do nº 12 da avenida Rei Faisal.

O edíficio, visto de fora, já vai cativando. Conhecia vagamente a sua história, da merecida referência que tem no excelente Rough Guide to Jordan. Tinha mesmo tomado uma vaga nota mental para o visitar, caso se proporcionasse. E quis o destino que o pequeno palacete se encontrasse no trajecto que todos os dias haveria de palmilhar, desde a casa do meu anfitrião até ao centro da cidade.  Sabia que tinha sido construido em 1924, sendo aparentemente a casa mais antiga de Amman. Pouco depois foi arrendado ao governo, que ali instalou o primeiro serviço de correios do então Emirato da Transjordânia. Depois, a partir de1948, albergou o hotel Haifa. Até que em 2001 o duque alugou o imóvel à família Madi – ainda a mesma que o construiu – e abriu-o ao público.

Tive o prazer de conhecer este homem, Mamdouh Bisharat por nascimento e duque de Mukheiheh por nomeação real. De resto, trocar dois dedos de conversa com tão digna figura é um privilégio acessível a todos os que visitem Amman, porque as portas do seu “diwan” estão abertas a quem quer que queira subir o lançe de escadas que a elas conduz a partir da rua.

No interior, poderá encontrá-lo a tomar o seu querido chá, ou à conversa com qualquer outro visitante. Mas ele terá sempre tempo para explicar o seu sonho, o de fazer daquelas paredes um centro de artes, uma tertúlia cultural à disposição de quem queira mostrar o seu trabalho. Alguém lhe perguntou um dia se pretendia fazer obras na velha casa. Respondeu que não, que  queria conservar o espírito do local e quando se mexe numa casa a sua alma pode perder-se para sempre.

Aquele espaço, e, de resto, o bom do duque, são intemporais. Quem der consigo sentado no sofá sorvendo uma bebida na companhia do anfitrião, pode facilmente acreditar encontrar-se na Amman de outra época, sob o domínio britânico ou, mais tarde, nos primeiros anos da Jordânia soberana.

A pintura das paredes encontra-se aqui e acolá escamada; pela janela entram raios de sol que incidem numa velha mesa de madeira maciça, sobre a qual se encontra um napron e uma jarra de flores que valeria uma fortuna em qualquer loja de antiguidades. Nas paredes, fotografias de obscuras personalidades jordanas, recortes de jornais, fragmentos das memórias que o duque procura a todo o custo agarrar e, quanto mais não seja, passar a quem as quiser agarrar. À boca da pequena varanda que dá para a movimentada rua, um banco coberto de almofadas tem um jornal dobrado à pressa, denunciando o lugar onde o anfitrião descansava antes de se levantar para nos receber. O bulício do trânsito que passa lá fora, dos vendedores, das pessoas, entra pelas janelas, como se não pertencesse ali, como se viesse, do futuro, invadir o espaço doméstico de uma casa árabe na pequena Amman do antigamente.   Tudo isto são pormenores, que se tornam importantes, vitais, mesmo, porque é deles que é feito este espaço.

Quando penso no Duke’s Diwan, interrogo-me se ainda estará lá, como eu o encontrei, em Novembro de 2011. Porque tenho a triste consciência que o que conheci é um tesouro à beira da extinção. Quando o nobre velhote morrer ou perder a saúde que lhe permite abrir aquelas portas diariamente, o sonho que vivi durante breves minutos deixará de estar disponível para os que me sucederem enquanto viajantes de passagem por Amman.

Onde: King Faisal Street, #12 – Amman (junto ao edíficio do Banco da Jordânia)

Quando: De Sábado a Quinta-feira, das 8:00 até ao pôr-do-sol. Mas é melhor não confiar cegamente neste horário.

Quanto: As portas do diwan do duque estão abertas a troco de nada mais do que o devido respeito e um pouco interesse pelo seu projecto.

Artigo do blog Cruzamundos. Mais textos em http://www.cruzamundos.com/



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